1. |
Mourisca (Campanário)
04:44
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Moro na beira da rocha
numa casinha terreira
não posso dormir de noite
c'a zoada da ribeira
não tem falta de brindeiros
quem tem a sogra pauleira
quem compra nabos em sacos?
Eu não caio nessa asneira
você diz que é tarde
eu digo que é cedo
vai à Serra d'Água
comprar um bezerro
fui à Serra d'Água
comprei um boi branco
comprei por dez reis
vendi outro tanto
eu 'tava doente
mas já me levanto
não posso cantar
mas agora canto
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2. |
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Longe da vista me vai
a minha linda nação
madrinha, a sua benção
madrinha, a sua benção
ai, se me vires dar às velas
não te ponhas a chorar
bem sabes que dar às velas
é dar pano e caminhar
ai, as pedrinhas do calhau
amanhecem serenadas
as meninas dos teus olhos
para mim foram criadas
ai, quem me vir aqui cantando
pensará que estou alegre
tenho o coração mais triste
do que a tinta que se escreve
ai, qu'o meu pai já foi barqueiro
leva-me contigo ao mar
qu'as ondas do mar são bravas
um dia hei-de amansar
ai, a travessa é comprida
o pior é o bocarão
bem sabes qu'o mar do Norte
faz bewiguinhas na mão
longe da vista me vai
a minha linda nação
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3. |
Cantiga dos Reis (Gaula)
03:31
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Eu venho cantar os reis
à porta do meu vizinho
para que me abra a porta
quero ver o Deus Menino
para que me abra a porta
quero ver o Deus Menino
Todos nós sabemos
também vós sabeis
do dia cinco
para o dia seis
todos nós sabemos
também vós sabeis
que é nesta noite
que se canta os reis
já vejo a porta aberta
já vejo a luz a brilhar
peço licença ao vizinho
se dá licença de entrar
por favor peço ao vizinho
se dá licença de entrar
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4. |
Marcha (Camacha)
03:00
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5. |
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Corre , corre ó lindo anel
Corre, corre sem parar
Onde está, onde se encontra?
Quem no pode adivinhar?
Quem no pode adivinhar?
Sim, quem no adivinhou?
Vai correndo ó lindo anel
Que da minha mão passou
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6. |
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ó ladrão, larga a menina, ó ladrão
que a menina não é tua
se eu fosse o dono da casa, ó ladrão
punha-te no meio da rua
se o mar tivesse varanda, ó ladrão
eu ia com minha mãe
como o mar não tem varanda, ó ladrão
eu não vou nem ela vem
ei o papel ao vento, ó ladrão,
pelo ar perdeu a cor
perderes de vista, ó ladrão
não me percas o amor
a praia do Porto Ssanto, ó ladrão
é comprida e tem areia
no meio tem uma roda, ó ladrão
onde o meu amor passeia
quando passei, ó ladrão, ó ladrão
ó, como a noite brilhava
e a lua minha madrinha, ó ladrão
que no céu me aluminava
ó miha mãe olha aquele, ó ladrão
que me quer levar p'rá rua
ó ladrão larga menina, ó ladrão
que ela é minha e não é tua
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7. |
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ih! quando o meu pai morreu
ih! oh lá li lá lé lá
ih! minha mãe m'abandonou
ih! q'ria q'eu chamasse pai
ih! oh lá li lá lé lá
ih! ao amante q'ela 'rranjou
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8. |
Rico Franco (Caniçal)
06:12
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‘tava o rei no seu palácio, com sua felha à janela
cande passa o Rico-Franque – E ai que linda, quem ma dera.
- Ê nã dou a menha filha, nem a conde nem a marquês,
só darei pelo denheire que nã se contasse num mês.
Há instantes no palácio, lágimas de três em três:
- Se chore por pai e mãe, tu nunca mais tu nos vês;
se chore por tês irmãos, já nui matei todos três
- Não chore por pai nem mãe, qu’inda hoje o irei ver;
choro e à menha ventura, qu’eu não sei cuma vai ser.
- Sua ventura, senhora, ê bem poderei dizer:
é sentada numa almofada a fiar ou a tecer,
recostada nos meus braços que melhor não pode ser
- Menha ventura é essa, muite gostei de saber.
E o palácio do mê pai eu inda hoje o irei ver.
Impresta-me o teu punhal, o teu punhal inglês,
qu’eu quero cortar as fitas do laço, qu’a menha mãe fez;
que d’ua faç’ em duas e de duas faç’ em três
Rico- Franco, dde leale, à mão le foi entregar.
Ela de falsa traidora pa’ o Rico-Franco matar.
- Fica-te aí, Rico-Franco, alguém há-de te interrar.
- Ande, vindes, menha felha, que vens tão insaguentada?
- Eu matei o Rico-Franco, que me luvava enganada.
- Menha felha, s’assim foi tu serás abençoada.
No palácio do teu pai tu inda hoje serás c’roada.
- Meu felho, bem t’avisei. Meu felho, bem te avisava
qu’essas andadei de noite nã te davu baua fada.
Perde quem anda de noite, ganha quem anda de dia,
perd’ aqueles que tem anores, ganha quem dele se desvia.
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9. |
Galanducha (Caniçal)
06:37
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- Esta noite que passou, dormi co’ ua linda dama
Era mai’ linda que o Sol, mai’ linda que o próprio dia
Também a cintura dela dentro de ua mão cabia.
Os soldados que ali ‘tavam saíram todos à rua
Quem seria, quem seria, quem seria, quem será?
Foi a dama Galanducha, foi a dama Galanducha
Que outra mais linda não há, que outra mais linda não há.
O pai que aquilo ouviu, mandou-na logo chamar
Para fechá-la num quarte, para mandá-la queimare.
Ia pela escada fora, muito cheia de pesare
- Quem me dera agora, aqui, ua pessoa leale
Que me levasse esta carta, ai, ao Conde de Montalvar!
A fortuna dela é toda em uma velha ali chegare.
- ‘tou aqui minha menina, do que mim precisares
- Pega lá esta cartinha, cartinha de Montalvar
- Entrega ao Sant’ António, que ele é que vai carregar
- Se ele ‘tiver jantande faça favor de esperar
Se ele ‘tiver passeande velhinha vai entregar
A fortuna dela toda é ele ‘tar a passar
- Pegue lá esta cartinha ao Conde de Montalvar.
Conde pô’-se a ler a carta, Conde pô’-se a suspirar
- Não me importa que a queime nem que deixe de queimar
Que me pisa há sanguo meu que nesse ventre vai levar
Ponha-me nesses cavalos e ponha-me nestes cavalos
Viaje de nove dias em três dias e hái-de dar.
Ele ia por o caminhe, ele ia por o caminhe
A justiça o encontrar, a justiça o encontrare
- Ah! Senhor da justiça faça o favor de esperare
Essa menina que vós leve ‘inda vai por confessare
Confessa minha menina, sabe bem por confessare
No meio da confissão, um beijinho hái-de dare.
- Ande conde pôs seu beiço, ande conde pôs seu beiço
Não toca beiço de frade, não toca beiço de frade.
- Confessa minha menina, sabe bem p’ r o confessar
Se nã teve outres amores senão o Condo Alvar
Eu não tive outres amores, não devia de tomar
Por causa desse ingrato homa mê pai me manda queimar
- Confessa minha menina, sabe bem por confessar
No meio da confissão um abraço me vai dar
- Ande Conde pôs seus braços, ande Conde pôs seus braços
Não toca braço de frade, não toca braço de frade.
Confessa minha menina sabe bem p’ r o confessar
Se não teve outros amores Senão Condo Alvar
- Eu não tive outros amores, não devia de tomar
Por causa desse ingrati homa meu pai me manda queimar
- Esta menina é minha, que encargo de conciença
Que me custou acriadá-la, que encargo de conciença.
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10. |
D. João (Boaventura)
06:23
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- Oh! Meu Deus, qu’ ê já sou velho e as guerras me matarão!
Responde a filha mais velha do seu leal coração:
- Dê-me armas e cavalos p’rá guerra de D. João
- E ó filha, tu não vás qu’ eles conhecer-vos vão,
Que tens os cabelos grandes, eles conhocer-vos vão
- Pegarei numa tesoura deit’ os cabelos ao chão
- E ó filha, tu não vás qu’ eles conhecer-vos vão
Que tu tens seios grandes, eles conhocer-vos vão.
- Mando fazer um colete, que ajusta meu coração.
- E ó filha, tu não vás qu’ eles conhecer-vos vão,
Que tu tens pés pequenos, eles conhecer-vos vão
- Mando fazer umas botas do mais fino cordavão.
- E ó filha, tu não vás qu’ eles conhecer-vos vão
Que tens os olhos bonitos, eles conhocer-vos vão.
- Quando eu passar pelos homens, meto os meus olhos ao chão.
- Os olhos de D. Martinho, senhora mãe, matar não
Que o corpinho será d’homem e os olhos de mulher são.
- Convidai-a a vós, meu filho, para contigo dormire
Que s’ ela fore mulher, nã no s’ há-de consentire.
D. Martinho de padre mestre seu criado lhe mandou
- Convidai-a vós, meu filho, para o jardim passeare
Que s’ ele fore mulher às rosas se vai apagare.
- Lindas rosas para as moças oh! Quem nas fosse luvare.
- Lindos cravos para os homens para na guerra cheirare.
- Os olhos de D. Martinho, senhora mãe, matar não
Q’ o corpinho sará d’homem e os olhos de mulher são.
- Convidai-a vós, meu filho, para contigo jantare
Que s’ ele fore mulher, o mais baixo vai-se sentare.
D. Martinho, de padre mestrei, no mais alto se sentou.
- Convidai-a vós meu filho, par’ ao mar ir a nadare
Que s’ ele fore mulher, vai-se sentar a chorarre.
‘tava desatando um sapato, começou logo a chorare.
- O que tendes, D. Martinho, que novas ‘tão a chegare?
- São novas da minha terra, q’ o meu pai é falecido.
- Sete anos fui soldado, ah! Sete andei na guerra,
Se queres casar comigo, vamos para a minha terra.
Fui conhecida na guerra pelo filho de um capitão.
Conhecida pelos olhos e por outra coisa não.
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